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quinta-feira, 31 de maio de 2012

MORTE - A PASSAGEM


ESCLARECIMENTO

O texto aqui publicado é a versão revisada do original datado de setembro de 1991, o qual eu enviei ao papa João Paulo II, conforme pode se verificar nas imagens abaixo. Uma carta manuscrita endereçada a Sua Santidade acompanhou este texto, na qual eu explicava não só a razão de tê-lo escrito, como pedia ao chefe supremo da Igreja Católica Apostólica Romana para promover o ecumenismo, mas principalmente, e, sobretudo, a união da Cristandade, tão dividida por disputas políticas e socias quanto pela falta de acordo quanto a dogmas e ritos de suas práticas religiosas, a tal ponto que a mensagem de fraternidade e amor de Jesus estava sendo esquecida.








Mais de 21 anos se passaram desde que esse texto chegou às mãos do papa João Paulo II, neste interim ele faleceu e o papa Bento XVI ascendeu ao trono de Pedro. Durante esses anos, a Igreja Católica Apostólica Romana deu importantes passos em direção ao ecumenismo, assim como adotou ações para promover a unidade da Cristandade, se reaproximando das Igrejas Ortodoxa e Anglicana. Contudo, o rebanho de Nosso Senhor Jesus continua disperso e esquecido de seus ensinamentos de amor. Evangélicos, protestantes, carismáticos, batistas, testemunhas de Jeová, messiânicos, católicos, anglicanos, presbiterianos, espíritas e tantos outros grupos que se dizem seguidores de Jesus vivem se engalfinhando em mesquinhas disputas, como se esquecidos que todos possuem como seu supremo mestre o mesmo líder, o nosso amado Jesus.

Toda e qualquer Igreja constituída com base nos ensinamentos de Jesus é na verdade uma instituição humana, por este motivo é passível de erros. Quando pois estas instituições estabelecem ritos, dogmas e preceitos o fazem segundo a perspectiva humana, desconsiderando o mais importante a perspectiva divina, principalmente as contidas nos ensinamentos de Jesus. Muitas vezes erram, pois interpretam os ensinamentos de Jesus segundo o conhecimento materialista e racional, e não segundo a sabedoria espiritual. As Igrejas Cristãs de um modo geral deviam estar mais preocupadas em promover a Fé e ajudar as pessoas espiritualmente para que alcançassem a realização pessoal e a felicidade existencial, do que se perderem em discussões infrutíferas, destinadas mais a condenar o comportamento humano do que a consolar aqueles que por um motivo ou por outro não conseguem superar suas próprias fraquezas. 

Jesus afirmou inúmeras vezes que veio para os “pecadores”, para ajudá-los a se libertarem do pecado. Mas, as Igrejas, todas elas, são acusadoras dos pecadores, não os acolhem, mas os condenam e os expulsam e os afastam de suas congregações, e por este motivo falham e pecam contra Deus. Jesus também disse: “Que atire a primeira pedra aquele que não pecou”, observe-se que nem ele mesmo se atreveu a atirar uma pedra, pois como está escrito no texto sagrado do Eclesiastes (7:20): “Não há homem justo sobre a terra que não faça o bem sem pecar.” E, dentre todos os seres humanos que andaram sobre a face da terra até os dias de hoje não houve homem mais justo que Jesus.

Durante toda a minha vida busquei me instruir nos ensinamentos de Jesus e estudei muito as escrituras sagrada. O texto "Morte - A Passagem" foi o primeiro fruto dessa dedicação dentre muitos que viriam. Por ocasião de seu envio ao papa João Paulo II,  eu contei com o carinhoso apoio do Núncio Apostólico no Brasil, Dom Carlo Furno. A minha amizade com a Nunciatura se estendeu com seu sucessor Dom Alfio Rapizarda, pelo qual eu nutria uma grande admiração em razão de sua ponderação e sabedoria. Sempre serei agradecida a eles por terem permitido a divulgação deste texto junto as comunidades jovens católicas de Brasília. 

Contudo, foi com o meu caro amigo e meu confessor, Padre Joaquim Horta, padre Lazarista da Congregação da Missão, fundada por São Vicente de Paulo (Paris, 17/04/1625), cuja missão nobre é defender os pobres, os abandonados, os escravizados e os marginalizados, que eu refortaleci a minha fé e reencontrei o meu caminho.

Meu amigo querido Pd. Horta

A formação religiosa vicentina do Padre Horta dava a ele uma abertura espiritual e de mente para compreender as inúmeras questões que eu tinha a respeito dos dogmas impostos pela Igreja Católica. Na casa paroquial da Igreja de Nossa Senhora das Graças, em Brasília, nós ficávamos horas  e horas conversando discutindo as passagens do Velho Testamento e principalmente em relação aos Evangelhos, e foi por isso que ele me deu de presente a sua própria Bíblia, em 1º de janeiro de 1996, para que eu nunca esquecesse dele e principalmente de nosso amigo Jesus. Até seu falecimento em 11 de novembro de 2.000, aos 93 anos, no Rio de Janeiro, nós nos correpondemos. E, mesmo depois de sua partida para junto de Jesus,  ele continuou  sempre presente na minha vida, e meu amor por ele só fez aumentar. Ele foi meu último padre confessor, depois dele só mesmo o próprio Jesus.



Só me tornei definitivamente uma dissidente da Igreja Católica Apostólica Romana, quando recentemente uma bula papal proibiu o recebimento do sacramento da comunhão para pessoas como eu, que tiveram filhos sem nunca terem recebido o sacramento do matrimônio. Disposições anteriores determinavam que do momento que eu me separara do pai do meu filho, que era desquitado, eu deixara de “viver em pecado”, o que permitiu tanto o batismo do meu filho (1979) como que eu voltasse a receber a comunhão, após ter procedido a uma confissão especial com o Frei Beijamim, da Ordem Beneditina. A proibição da comunhão me afastou da Igreja Católica, porque feriu meu coração, senti-me discriminada e considerei uma decisão impiedosa do atual papa. Pessoalmente, eu considero que a discriminação contra a mulher na Igreja Católica Apostólica Romana mereceria, por justiça, ser revista amplamente. Por motivos que não consigo compreender esta discriminação tem sido cada vez maior, em vez de ocorrer o merecido reconhecimento do papel da mulher durante milênios no sustento da fé cristã. Afinal, o próprio Jesus tinha pelas mulheres um respeito e um amor que deveria ter sido um exemplo para todos homens, e jamais se ter usado de seu santo nome para discriminar e perseguir as mulheres como se pode comprovar historicamente.

Eu tenho a esperança que num futuro não tão distante, todas as instituições fundadas em nome Jesus, reconheçam a mulher em pé de igualdade com o homem, e passem a dar a elas a consideração que merecem e suprimam de maneira definitiva o estigma imposto desde Eva. Afinal, se nós mulheres estamos sendo capazes de aceitar sem discriminação a brutal mudança do comportamento masculino – ­ pois para muitas de nós tem sido um choque constatar o crescimento da homossexualidade masculina, inclusive nas Igrejas, pois até os anos de 1980 a mulher ignorava inteiramente o que acontecia no mundo sexual masculino –, nada mais justo que a humilhação da mulher em razão de seu sexo deixe definitivamente de existir, principalmente no que se relaciona às questões religiosas.

Este esclarecimento se fez necessário justamente em razão dos católicos, para que eles possam ler o texto a seguir com tranquilidade de consciência, sabendo que antes dele ter sido tornado público recebeu a atenção do papa João Paulo II, e não foi considerado em desacordo com os ensinamentos cristãos, apesar de alguns aspectos que poderiam a princípio parecerem conflitantes com os dogmas católicos.

Foi assim com este texto que a minha jornada em me tornar serva de Jesus começou de maneira definitiva e espero caminhar com ele e seguí-lo sem mais nenhum desvio por toda eternidade.



MORTE – A PASSAGEM

B. Botana

Desde o ínicio da existência do homem, como ser cônscio e pensante uma sombra o assola; a MORTE.

A primeira experlência frente a morte, o corpo inanimado e imovel, é sem dúvida traumatizante. O último sopro da vida que expira, quando presenciado, emociona, pois nele se identifica o destino de todos os seres viventes, o único acontecimento que é comum a todos e terrivelmente certo.

Conhecer a morte de outrem é conhecer a própria morte, é ver-se também morto.

O ser humano tem dlficuldade em aceitar que tudo tem princípio e fim, assim como ele mesmo, quando matéria, quando o todo lhe parece eterno e imutável. Eis que a aparência o engana e o ilude, e devido a esta ilusão busca sua eternidade e sua perpetuação imediata.

O ser humano não aceita a transitoriedade material, assim como não aceita a sua eternldade espiritual.

Há milênios o ser humano fala da eternidade espiritual, é um conhecimento tão antigo quanto as mais remotas civillzações humanas. Geração após geração buscou dar explicações específicas sobre a natureza espiritual e seu comportamento, mas a descrença ainda se mantém até os nossos dias.

Se levarmos em conta a tradição podemos dizer com alguma certeza que:
–  ­A alma é o corpo energético que vivifica o corpo material;
– O espírito é o centro de comando do corpo espiritual do mesmo modo como a mente o é do corpo material;
– O corpo espiritual é constituído de espírito e alma possuindo identidade própria e individualidade ;
– O corpo espiritual abandona o corpo material quando esse por impossibilidade mecânica ou por deficiência orgânica cai em estado de deteriorização, tornando impossível a regeneração da matéria, o que ocasiona a falência física, ou seja, a morte do corpo orgânico: 
 As lembranças da vida material, as ações boas e más, permanecem gravadas no corpo espiritual após a morte do corpo orgânico, acompanhando-o em sua transcendência; 
– O corpo espiritual pode renascer ou reencarnar-se num novo corpo físico, ou nunca mais conhecer a matéria, fato que dependerá do estado de pureza alcançado pelo corpo espiritual e
– O corpo espiritual é eterno e somente pela vontade Daquele do qual se originou poderá ser extinto no “fogo eterno” (va1e lembrar, que em termos científicos, que a energia é uma força que se transforma e transcende, nunca se perde, mas quando em forma de calor é considerado uma energia degradada, motivo pelo qual ela não se propaga, finda e acaba).

O fato desses conhecimentos terem sido transmitidos ao longo de milênios e milênios ja seria motivo mais que suficiente para serem credíveis. Mas, não, o ser humano permaneceu sem fé dizendo: “Se essa é a verdade, prove-se! Pois não houve ainda um entre nós que tenha morrido e voltado à vida para dar seu testemunho do quê verdadeiramente existirá após a Morte".

Contudo isso não é verdade, pois veio um homem ao mundo e  ele provou da morte e dela ressurgiu, ele deu seu testemunho, mas poucos creram e compreenderam.

A vida na matérla só pode ser concebida como um meio de purificação espiritual em conjunto com um processo de evolução material, daí sua condição de constantes renascimentos reencarnativos. Dirão aqueles que lêem essas palavras: “– Como isso e possivel?”

Eis que a matéria só por si só é bruta e destituída de beleza e graça, é obra incompleta e inacabada. A Força Divina que a anima, a qual interpretamos e cognominamos de Vida, está presente no corpo espiritual, esta sim é responsável pela obra completa, a verdadeira criação.

Assim é possível observar a existência de duas forças; a força material (a matéria) e a força espiritual (vida, que anima a matéria), as quais interagem-se em busca de um equílibrio, tendo ambas forças um único objetivo: a busca constante do aperfeiçoamento da relação que as une, de modo a formar um ser perfeito.

Mas como é idealizada este estado de perfeição buscado por essas duas forças que parecem ilusioriamente opostas?

A perfeição idealizada encontra-se na eterna permanência integrada delas, isto é, elas buscam a união, manifestando um desejo profundo de sendo duas se tornarem UNA. De modo a transformar o corpo material e o corpo espiritual em um só corpo. Este é o estado de perfeição a ser alcançado.

O ser humano contemporâneo acredita que a conservação do seu corpo por meios científicos e da medicina é a resposta exclusiva para a almejada eternidade física que busca. Esses meios podem ser um auxílio, mas não são a única resposta.

Enquanto pensa-se desta manelra em relação ao corpo material, pouca ou nenhuma importância é dada ao corpo espiritual, já que não se acredita nas imensas e inimagináveis possibilidades que o corpo espiritual possa oferecer. Entre suas qualidades mais admiráveis está a sua capacidade de regenerar a materia, a simples ação de curar os males que possam afetar o organismo físico.

Quão triste engano o ser humano vem cometendo por sua falta de fé em si mesmo, pois não se preocupa em se conhecer e saber quem é na verdade.

Disse Jesus: “Ainda não compreendeis que tudo que entra pela bôca desce para o ventre, e é lançado fora? Mas o que sai da boca, procede do coração, e isso contamina o homem. Porque do coração procedem os maus pensamentos, mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias. São estas coisas que CONTAMINAM o homem; mas comer sem lavar as mãos, isso não contamina o homem.” (Mt. 15: 17-20).

Jesus veio ao mundo para exemplar o “Ser Humano-perfeito”, toda a sua doutrina e vida objetivava esse fim, eis, pois, a razão de sua morte e ressureição, unicamente para demonstrar ao ser humano de maneira clara e indubitável o objetivo final de Deus: a fusão de dois mundos, o visível ao invisíveI, a UNIDADE.

A eternidade é a promessa de Deus ao ser humano quando alcançar a  sua plena perfeição. Os meios de se chegar a esta perfeição nos foram apresentados de forma suscinta e direta por Jesus, que vivenciando a experiência existencial humana alcançou o estado de perfeição em que a alma é capaz de estar na matéria sem se corromper ou se deteriorar, o que lhe permitiu receber em seu corpo físico o Espírito Santo –  o Espírito Perfeito à semelhança do Pai. (Nota-se que por várias vezes, Jesus se referia ao seu corpo físico com a palavra MORADA ou com a expressão “A CASA DO MEU PAI", para designar onde o espírito divino de Deus habita).

Muito já se discutiu a respelto da divindade de Jesus, já que é difícil ao ser humano aceitar que seu Deus tenha se gerado a si mesmo. Como poderia esse Deus tão inalcançável, tao distante da realidade humana, decair assim na matéria, nessa forma humana considerada  tão impura, pecadora, pobre e desprezível?

Primeiro, a matéria não é impura, A conscientlzação da matérla como única realidade e verdade pelo ser humano que é impureza, isso é erro e pecado.

Segundo, a Deus tudo é possível, pois o todo é Ele e o tudo está Nele.

Terceiro, o fato de Jesus ter nascido de uma mulher, para assim assumir uma forma física de matéria orgânica, não lhe imputa sua divindade. Pois, quando se disse, desde o Antigo Testamento e em outros documentos da antiguidade (mesmo aqueles apócrifos), que o Senhor (ou o Messias, ou o Salvador) viria ao mundo, para salvá-lo, para redimir o pecado dos seres humanos, como filho de uma "virgem" (que quer dizer sem pecado), a alusão não era só ao mérito do corpo físico, mas principalmente em relação ao corpo espiritual, o qual ainda mais do que o corpo físico deveria ser imaculado, porquanto o pecado não está na carne, mas no corpo espiritual. À vista disso, o corpo físico de Jesus foi gerado em matéria orgânica no ventre de Maria, a qual possuia um corpo espiritual adequadamente imaculado, que não estava sob o domínio de uma consciência material e não estava corrompido ainda em sua pureza espiritual.

Esse dom de Maria  permitiu que a gestação se desse num estado de graça que refletia em seu corpo físico a perfeição espiritual que possuía, dando-lhe um corpo perfeito, um receptáculo para a espiritualidade sem mácula de Jesus, para o Espírito Divino que materializaria-se no Filho do homem, o Servo de Deus, o enviado para demonstrar aos seres humanos a verdade, e revelar-lhes o “Filho de Deus”, o Ser Humano-Perfeito.

A vida de Jesus sempre suscitou polêmicas devido a pouca compreensão das pessoas para o mistério que lhes foi apresentado. Questionou-se a imagem de Jesus de maneira incansável, que resulltaram tanto em dogmas e preceitos religiosos como em guerras e  terríveis perseguições. Do momento em que se tentou limitar os ensinamentos do Filho de Deus às coisas materiais e mundanas, aprisionando-os a uma religião, a uma instituição socio-política humana, eles acabaram por serem desvirtuados.

Ora, Deus enviou seu Filho ao mundo, Deus se fez filho de Si mesmo, assim como Adão era filho de Deus e Deus criou Adão dando-lhe vida com Seu sopro, da mesma maneira Deus se gerou homem e Se fez presente em Espírito Santo, pois, a Deus é possível habitar em vários lugares, como Jesus disse: “– Meu Pai possui várias moradas." (Jo. 14:12). Deus veio ao mundo como Jesus por amor a todos os seus filhos, sem excessão!

Alguns dirão: “– Mas se Jesus veio para todas as pessoas, por que nasceu judeu? Por que não veio ao mundo como cidadão romano? Ou por que não no Oriente, na Índia ou China?"

A resposta é simples. Jesus veio para aqueles que mais precisavam Dele naquela época. As civilizações orientais, naquele tempo, já possuiam um notável conhecimento das coisas divinas. É certo que diferiam em suas interpretações, mas sempre valorizaram os preceitos espirituais, coisa que não ocorria na região banhada pelo mar Mediterrâneo. No tempo da vinda de Jesus o materialismo do lmpério Romano atingia a todos os povos ao seu alcance, influenciando-os de maneira pérfida. Os judeus também estavam sendo vítimas dessa situação Notórios por sua religiosidade e severo moralismo, os judeus muito discutiam a respeito das coisas divinas. Eles diziam que por serem o povo escolhido por Deus eram só eles que O conheciam. O Deus que os judeus concebiam era exclusivo deles, e os outros seres humanos erarn indignos deste deus por serem ímpios e pecadores. Enfim, os judeus discriminavam os outros indivíduos estrangeiros através de sua rellgião. Nessas interessantes circunstânclas é cabível que tenha originado-se deles e para eles a vinda de Jesus – onde mais poderia o Filho de Deus ser mais bem recebido? – , justamente para que os judeus pudessem provar a força de sua fé  e terem a sua fé posta a prova, num período em que a corrupção material estava no seu auge.

O Filho de Deus foi ao seu povo e este não o conheceu, mas foi assim que o deus que era exclusívo só de alguns se revelou pertencente a toda humanidade. Deus enviou Jesus, seu Fllho, aos homens do mesmo modo que Ele está para todas pessoas, de todas as raças e de todos os credos.

O desejo de Jesus era que seus “ensinamentos verdadeiros” fossem levados a todas as pessoas de forma que a sua passagem pelo mundo se tornasse um exemplo a ser seguido por todos nós, e que a sua vida, sua morte e sua ressurreição fossem a prova incontestável do que Deus reserva para todos os seus filhos:  a ressurreição da carne e a vida eterna.

Mas, é certo, que para tanto será necessário ao ser humano mudar, não o seu exterior, o seu corpo material, mas, sim, o seu interior, o seu corpo espiritual. Devemos temer a vida na matéria, pois é nesse estado, que se dá a mácula na alma, a qual enfraquece o corpo espiritual e impede a realizaçáo do Ser Humano-Perfeito, o Ser Uno.

A existência mundana e suas inesgotáveis paixões, resultantes do apego humano à matéria, do seu desejo ardente de possuir prazeres materiais, sempre criando inúmeras desculpas para a cada dia necessitar mais e mais de coisas materiais –  a ponto do ser humano ser capaz de criar novas e inusitadas dependências desnecessárias ao seu corpo físico! – esse comportamento cria armadilhas que aprisionam o ser humano a uma visão limitada de si mesmo e impede o seu crescimento e progresso para sua saída definitiva do estado primitivo em que se encontra.

Essa condição materialista restritiva humana é capaz de revelar claramente quão grande é a ação poderosa da chamada “força material”. O ser humano tem dedicado quase a sua inteira existência a conhecer essa “força material”, e a coloca em oposição à “força espiritual”, a qual pouco ou nada conhece, pois não consegue ainda comprová-la “cientificamente”, o que o leva até a negar a sua existência! Essa oposição entre a força material e a força espiritual,  ocorre em todo Universo, mas de maneira construtiva, já que encontra-se na força espiritual as chamadas “Leis” que sustentam e governam o Universo.  Em relação ao ser humanao, predestinado a ser a criação-perfeita resultante da união dessas duas forças poderosas, o desequilíbrio decorrente de sua agregação aos desejos do corpo e sua valorizaçao material, de modo que a força material suplanta a força espiritual nele existente. Porquanto a força espiritual dele se esvai, deixando de agir em benefício do corpo físico, permitindo a esse sofrer as conseqüências de seu desregramento.

É importante, para aceitar a idéia do Ser Humano-Perfeito, o Ser Uno, conceber antes a idéia de que o movimento de Criação Divina nao se completou. Esse ponto se esclarece segundo as palavras de Jesus: “– Meu Pai trabalha todos os dias." (Mc. 2:23-28) Desta forma se Deus trabalha todos os dias, a sua criação não é finda, logo o ser humano assim como todos os outros seres viventes não são obras completas, são inacabadas. Nós podemos aventar que a Criação Divina também possui um processo evolutivo de aperfeiçoamento, objetivando um melhor aproveitamento da matéria gerada.

Podemos também considerar que o corpo material humano dentre todos os outros seres da natureza terrena, é de inquestionável qualidade operacional. Eis por quê deve-se acreditar nos dizeres bíblicos do Livro do Gênesis, onde se diz que “Deus criou o homem a sua própria imagem e semelhança."

Esta idéia, que para muitos não passa de uma justificativa alegórlca da condição humana, apesar de qualquer incredulidade, ela tem fundamento. Pensemos. Deus é a origem de todas as idéias do Universo. Foi da idéia de Deus que o homem foi gerado, pois, antes de mais nada, a idéia de Deus gerou a forma e a forma nada o é sem conteúdo. E a essa forma humana que agradou à Deus foi dado um conteúdo espiritual, não só alma como o tem as outras criaturas. E é a esse conteúdo espiritual que se refere o dlzer e Deus criou o ser humano a sua imagem e semelhança.

É necessário também, para que se compreenda esse conhecimento tão complexo à mente humana, mas simples para a compreensão espiritual, que o mundo invisível é constituído de Forças - assim como o mundo da matéria se constituí de uma diversidade de células e átomos, que reagem ao meio exterior em função das leis e da ordem determinadas pela força material.

Algumas forças mais simples do mundo invisível já se tornaram conhecidas do ser humano. São forças primárias descobertas pelo ser humano moderno, tais como: ondas sonoras, eletricidade, reação atômica, reação calorífica e outras, denominadas simplesmente de ENERGIAS. São forças conhecidas pois agem de maneira perceptíveI sobre a matéria. Mas há outras forças do mundo invisível que desconhecemos e que também agem sobre a matéria, são as forças ditas Celestiais ou Cósmicas, que emanam e participam da Força Divlna de Deus e possuem por decorrencia supremacia sobre a força material, pois determinam o uso e o fim da matéria. Tanto a Força Material, do mundo visível, quanto a Força Celestial do mundo invisíveI são manifestações da Força Divina de Deus, do mesmo modo que a matéria é ordenada pela Força Material, as almas e os espíritos divinos são ordenados pela Força Celestial, segundo a vontade de Deus.

As forças integrantes da Força Celestial são conhecidas, em parte, por nós em suas imagens mitológicas de diversas divindades. Na antiguidade, e ainda hoje em algumas culturas, inúmeras descrições das atuações destas forças podem ser encontradas, principalmente no que se diz de suas origens e suas participações na criação do nosso mundo e do Universo.

É certo que a Força Primordial (ou a Força Divina de Deus), a qual também chamamos simplesmente de Deus, ao conter todas as outras forças, do mesmo modo que vários membros de um corpo, constituem um só corpo (apesar de cada membro manter a sua ldentidade individual, como também uma atuação específica), é UNO, indivisível, toda a existência o constituí num só corpo Divino.

É preciso que compreendamos também a infalibilidade da Força Primordial (Deus). Para tanto devemos imáginá-la como a um pintor frente a sua tela criando uma obra. Em meio a sua inspiração uma pincelada o desagrada, o matiz do colorido não é o desejado, o artista então, lança mão de seu conhecimento e utiliza uma cor específica, a qual fará surgir o colorido almejado. Esse procedimento ocorrerá não uma vez, mas inúmeras. EIe trabalha dando o melhor de si, unindo a sua inspiração corn a habilidade e o conhecimento tácnico que possui, a fim de alcançar o seu objetivo, que é o de transpor  para a tela a sua idealização, a qual só ele conhece. Um dia a obra estará completa de maneira magnífica, se concretizará afinal , e  o que era só uma ideia tornar-se-a uma explêndida realidade. Conclui-se que, em nenhum momento o artista inscindiu em erro: só ocorueu a busca da perfeição, a realização total da idéia concebida.

O mesmo ocorre com a Força Primordiar (Deus), não há erro em sua ação, só a realização perfeita de sua idéia em níveis e estágios progressistas, com o intuíto de alcançar sua idealização, através de seu projeto pré-estabelecido de uma obra completa.

Deus portanto não erra. Nós é que não compreendemos Sua ação. Porém, é natural que, enquanto o nosso entendimento ignorar isso haja dúvida em nossa fé.

Existem muitos indivíduos que para acreditarem na existência de Deus, exigem Dele provas materiais e concretas, devem ser cegos para não verem as infinitas manifestações divínas que agem neles mesmos !
Normalmente, a revolta com a morte é a maior causa da descrença em Deus. Isto porque as pessoas dificilmente acreditam que a salvação se encontra neles, não externamente, mas internamente.

A maioria das pessoas também não acredita na transcendência do corpo espiritual e na sua eternidade, no seu constante renascimento em busca do equilíbrio das Forças Celestia1 e Material. Se essas pessoas acreditassem, colaborariam para que o equllíbrio fosse encontrado e que ocorresse naturalmente.

O primeiro Ser Humano-Perfeito, como nos diz as Escrituras Sagradas da tradição hebráica, foi Adão, que perdeu seu estado divino por crer que o seu conhecimento mental, proveniente da matéria, era superior a sua nata sabedoria espiritual. A alegoria da passagem do fruto proibido, ofertado pela serpente a Eva, que o ofertou a Adão, significa justamente o despertar do ser humano para o conhecimento material, sua conscientização de seu corpo físico, de si mesmo e de sua individualidade.

Adão não tinha consciência de ser matéria, percebia a si mesmo como apenas um ser espiritual. Nele não havia dualidade. A nova consciência adâmica resultou na supremacia de seu estado material sobre seu estado anterior espiritual, porquanto esse estava oculto, isto é, Adão não era cônscio do seu corpo materlal. Pode-se entender que nesse momento, em que Adão e Eva comeram do fruto proibido, o Ser Humano-Perfeito deixou de existir neles, pois suas mentes passaram a governá-los e o Espírito Santificado que lhes fora dado por Deus, abandonou-os. A perda do Espírito Santificado foi a expulsão de Adão e Eva do Paraíso, estabelecendo uma condenação pecaminosa ao corpo físico humano. O que tinha sido dado gratuitamente ao ser humano lhe foi tirado, de forma que a sabedoria espiritual que antes possuia também foi perdida naquele momento, estando condenado a sofrer os ditames da carne (força material), conhecer o prazer físico e na  sua ausência: a dor. Igual aos outros seres vivos o ser humano só teria a sua alma. Para reaver o Espírito Santificado que antes o habitava, o ser humano deveria se mostrar merecedor dele para Deus.

Segundo o conhecimento divino uma pessoa pode salvar muitas outras com sua piedade e sua bondade. A simbologia da passagem de Noé é extremamente bela no que ser refere a esse aspecto.  Noé é um homem bom e seu destino foi salvar a raça humana e outros seres vivos,  quando a “má geração” de seres humanos foi eliminada pelo Dilúvio Universal. Ora a nova geração de seres humanos surgente foi dotada desse Espírito Santificado, mas a consciência da existência desse Espírito Santificado no indivíduo foi velado para que o ser humano não atentassem contra ele novamente. Foi somente com a vinda de Jesus, Filho de Deus, que o Espírito Santificado foi inteiramente revelado, libertando a toda humanidade de sua escravidão à condição física, mostrando ao ser humano o que estava além da matéria.  

No tempo que antecedeu a Jesus, podemos observar que em várias culturas –principalmente na Índia, na Pérsia, no Egito e na Grécia –  os mistérios da alma começaram a ser desvendados, com questionamentos sobre a sua existência, natureza e manifestação, porquanto buscava saber o destino após a morte. Essas culturas chegaram a possuir bastante conhecimento sobre o corpo espiritual, contudo foi Jesus que revelou a natureza do corpo espiritual em sua plenitude. Apesar de utilizar de palavras veladas, para que assim as pessoas compreendessem mais com o coração (sentimentos) do que com a mente (razão), Jesus revelou uma verdade que se para nós hoje com todo o nosso conhecimento científico é difícil de aceitar, quanto mais o era para as pessoas simples e sem tanto conhecimento de sua época.

Podemos ler no Envangelho de Lucas (5:36-39): “E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço dum vestido novo para o coser em um vestido velho pois que romperá o novo e o remendo não condiz com o velho. E ninguém deita vinho novo em odres velho: doutra sorte o vinho novo romperá o odres, e entornar-se-á o vinho, e os odres se estragarão; Mas o vinho novo deve deitar-se em odres novos, e ambos juntamente se conservarão. E ninguém tendo bebido o velho quer logo o novo, porque diz: Melhor é o velho.” Ora, Jesus queria dizer que o corpo espiritual tem que estar acompanhado de um corpo material novo, por ocasião de sua vinda ao mundo, pois, um corpo material velho não é condizente, porque já foi utilizado e se estragará com a força e a dinâmica da energia purificada. Do mesmo modo deixa claro que o corpo espiritual demora algum tempo para renascer, já que guarda lembrança de seu antigo corpo físico, e pode lhe ocorrer uma comparação ou até a vontade de ter permanência no antigo corpo, devido ao conforto do que se está acostumado e é conhecido.

Assim, um intervalo entre renascimentos contribui para que haja uma boa disposição do corpo espiritual para uma nova vida material. Neste intervalo de tempo que separa uma materialização da outra, ocorrerá um processo de purificação (esbranquecimento). Este fará com que o corpo espiritual se torne purificado das experiências nefastas e das lembranças passadas de sua vida anterior, que poderiam vir a prejudicar seu desempenho no próximo renascimento na matéria. No entanto todo conhecimento que for útil ao corpo espiritual para sua nova vida permanecerá, mesmo que parcialmente oculto, para que seja de auxílio no seu processo de aperfeiçoamento.

Pode-se dizer que o corpo espiritual vem novamente ao mundo puro, sem mácula de seu estado físico passado, não seria errado dizer que “seus pecados lhe foram perdoados”. Quando Jesus nos fala das criancinhas, que são  assemelhadas aqueles que entram no Reino dos Céus (Mt. 18:3-10; Mr. 9:35  a 10: 15), significa que as criancinhas por estarem chegando ao mundo ainda não possuem a consciência da matéria, são estritamente espirituais. O que é observável, já que uma criancinha recém-nascida até seus tenros anos de idade, não possui consciência plena do próprio corpo e suas necessidades materiais também não são conscientes. Numa criancinha o corpo físico e o corpo espiritual estão unidos, e nela ainda não existe dualidade. Do mesmo modo deve ser o ser humano por ocasião de sua morte física – completamente desprendido tanto da matéria que o cerca como de seu próprio corpo, ele não terá mais dualidade, estará UNO.

Portanto, nós devemos ser como as criancinhas, desprendidos das necessidades materiais, permitindo o agir mais espirltual do que o mental. De forma que a matéria não seja causa de sofrimento e mácula ao corpo espiritual e venha por isso a se deteriorar.

Do momento que o nosso desejo de posse material é intenso, por ocasião da perda dessa posse será equivalente na mesma medida o nosso sofrimento. A matéria deve servir ao ser humano e não ao contrário; o ser humano servir à matéria. A primeira condição é de liberdade e a segunda é de escravidão.

O Ser Humano-Perfeito, o Ser Uno,  aquele ao qual está destinada a vida eterna, é um ser que ainda está em formação,  que um dia existirá como nós existimos, do qual nós somos precursores. Contudo, o Ser Uno viverá na matéria tal como nós vivemos, mas de maneira diametralmente diferente. EIe não viverá só para a matéria - como poderia já que possui a vlda eterna? –  mas,  sim,  fará um uso pragmático e  funcional da matéria.

“Em verdade, vos digo que ninguém há que tenha deixado casa ou irmão, ou irmãs, ou pai, ou mãe ou mulher, ou filhos ou campos, por amor a mim e do Envangelho, que não receba CEM vêzes tanto, já neste tempo, em casas, e irmãos, e irmãs, e mães, e filhos, e campos, COM PERSEGUIÇÕES; e no SÉCUlO FUTURO A VIDA ETERNA. Porém muitos primeiros serão derradeiros e muitos derradeiros serão os primeiros.” (Mr. 10: 29-31) .

As perseguições que Jesus nos fala são as necessidades e os apegos materiais. Da mesma forma, Jesus revela os sucessivos renascimentos de sua  geração (100) e de quantos bens materiais receberia, todavia ainda com o peso das necessidades do corpo físico, e só num tempo futuro viria a vida eterna. Muitos seriam obrigados a sucessívos renascimentos para alcançarem um equilíbrio perfeito e harmônico de seu corpo físico com o corpo espiritual, outros não, no entanto todos teriam de esperar de uma maneira ou de outra um determinado momento comum a todos, a partir do qual o Ser Humano-Perfeito, o Ser Uno, passará a se manifestar.

Como será, então, essa nova era na qual surgirá o Ser Uno, o ser humano eterno? A única coisa que podemos dar como certo é que as costumeiras disputas materiais, que fazem parte corriqueira de nossas vidas deixarão de existir. Se extinguirá a posse do solo, desaparecerão as fronteiras dos países, e com elas outros conceitos como: nacionalidade, patríotismo, política, governo e tudo o mais que separa um indivíduo de outro, de modo que todos tipos de segregação e discriminação desaparecerão.

O Ser Uno vitorioso sobre a morte será liberto de seus anseios materiais, andará por todas as terras 1ivre de suas necessidades, livre para agir justamente em seu novo corpo e livre da dualidade que no passado  assombrava o ser humano.

Sim, existirão comunidades, não com o objetivo de auto-defesa, preservação ou subsistência, mas sim com um objetivo colaboracionista de divisão produtiva do trabalho. O conceito de trabalho remunerado dará lugar a produtividade voluntária, tendo em vista não só o bem estar de uma comunidade específica mas do todo ao qual pertence. Ele não acumulará bens materiais, não reterá em suas mãos nenhum tlpo de riqueza, pois compartilhar lhe é uma coisa natural. Por esse motivo não haverá mais fome, não haverá pobreza, não haverá padecimento do corpo material e tudo o que existe no mundo pertence a todos os seres viventes e os frutos desse mundo serão do direito de todos.

Com a nova era o comércio e seus agregados, dinheiro e consumo, deixarão naturalmente de existlr. O Ser Uno de nada precisa que não lhe seja dado e não será mais um escravo das necessidades materiais. Com isso podemos dizer que todos os males sociais estarão extintos.

O Ser Uno tem boa vontade e sabe que apesar de sua individualidade é parte integrante de um só corpo, o Corpo Divino de Deus, e cumpre com alegria o designio que lhe foi determlnado.

O sexo deixará de existir. O Ser Uno será andrógino, sendo eterno, plasmado na unidade da matéria e do espírito, a reprodução não será mais uma função orgânica necessária. Mas,  o sentimento de amor será amplo e irrestrito. O precelto de Jesus de "amar ao próximo como a si mesmo” não será mais um preceito, mas um estado da própria natureza do Ser Uno.

O Ser Uno terá um fantástico equlíbrio, será justo para com tudo, seu ego mental aliado ao Espírito Santificado o impedirá de qualquer ação egoísta própria do ser humano primitivo. Suas ações visarão sempre e em primeiro lugar o bem comum, o bem do próximo, seja “o próximo”  outro semelhante a ele ou outro ser vivente. Seu próprio bem virá sempre em lugar derradeiro. Ele não cansará de existir, pois como parte integrante da Força Primordial, o tempo como medida não existirá, e assim como ela estara sempre criando, aplicando seu conhecimento em benefício de todo o Universo.

Dotado de sabedoria e conhecimento antes inusitados, o Ser Uno agirá sempre de modo a aperfeiçoar toda e qualquer materia; será o pastor universal e cuidará de todos os seres sobre os quais a vida se manifesta; será um filantropo e como médico cuidará das almas e da preservação dos seres viventes; como advogado atuará arbitrando a justiça para que ela se cumpra conforme as condições naturais; atuará em todas as galáxias levando a paz e o sabedoria de Deus a todos os seres viventes em prol da perpetuação da Vida em todo o Universo. Ele será como um "Anjo Divino", ele será um Guardião da Vida, enfim, o Ser Uno será a imagem e semelhança de Jesus, ou seja, e a isso se atente, pois ser e se tornar como Jesus é o destino final de todo ser humano.

Assim o Paraíso que tanto desejamos não se encontra nos céus, ou em qualquer outro lugar distante da nossa vida terrena, mas aqui mesmo. A sua existência depende exclusivamente de nós, da nossa fé e da nossa força de vontade para lutarmos contra nós mesmos, para permitirmos que o que parece ser um milagre possa ocorrer, o mais rápido possível, a fim de que obtenhamos o quanto antes o término dessa era de sofrimentos humanos.

O camlnho que nos leva ao Ser Uno há muito está sendo trilhado por nós. Toda pessoa que se dispôs, ou se dispõe, em qualquer tempo, a ouvir a voz do Espírito Santificado que a habita e  que se concilia com ele, permitindo que ele se manifeste em seus atos livremente, sem a racionalização da mente, faz com que todos as outras pessoas se aproximem mais desse processo de transformação que conduz ao Ser Uno. A pessoa que busca a perfeição através de seu Espírito Santificado nada deve temer. O corpo espiritual conhece o verdadeiro bem enquanto o corpo material (a mente) só pode imaginá-lo, pois desconhece a essência do bem, por ser egoísta e só pensar em sua satisfação e prazer, enganando-se, a fazer do bem um mal e do ma1 um bem conforme a sua vontade mesquinha.

Não perguntem como se houve a voz do Espírito Santificado.Vocês a conhecem. Ela está presente na satisfação sentida quando se faz uma boa ação; quando apreciamos embevecidos um belo pôr-de-sol; quando sem motivo aparente nos sentimos alegres e felizes; quando sorrimos para alguém que nos é desconhecido e somos retribuídos com o mesmo carinho; quando o nosso coração se entristesse por alguma tragádia ou com a infeliz condição de outro ser humano e esses são alguns dos exemplos entre tantos e tantos que existem, mas em todos eles haverá uma sensação de amor, dando conforto e consolo.

Todos nós podemos ouvir a voz do nosso Espírito Santificado, uma voz que confundimos com os sentimentos ou até instinto, mas ela está sempre ali presente, nos falando de alguma coisa, nos ensinando a sermos melhores.

Cada pessoa que ouvir a  sua voz espiritual e agir em conformidade com ela levará outras mil espalhadas sobre a Terra a agirem do mesmo modo, de forma que a cada momento se tornem parte de um mesmo corpo, se integrando um ao outro como se fossem neorônios de um mesmo cérebro, e pudessem assim se unir a energia divina de Deus.

Essa é a nova era que se aproxima. Os ventos da conciliação do ser humano com Deus já sopram sobre a Terra anunciando um novo tempo. Em breve os carnpos estarão prontos para a ceifa e o joio será separado do trigo. Pois, apesar de terem crescido juntos, no tempo da colheita, a erva daninha será arrancada e lançada fora. Do mesmo modo nem toda carne será digna das bençãos do Senhor.

Não temam a morte da sua carne, mas sim, a morte do seu Espírito Santificado, pois onde não houver um Espírito Santificado nao haverá carne e para estes o verdadeiro fim chegará, a verdadeira morte, não pelas mãos de Deus, mas pela própria e infeliz escolha.

“Assim será na consumação dos séculos - virão os anjos, e separarão os maus dentre os justos. E lançá-los-ão na fornalha de fogo: ali haverá pranto e ranger de dentes. E disse Jesus: Entendeste todas estas coisas? Disseram-lhe eles: ­– Sim, Senhor. E ele disse-lhes: Por isso todo o escriba instruído a cêrca do Reino dos Céus é semelhante a um pai de famíIia, que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.” (Mt. 13: 49-52)



Brasília, D.F., setembro de 1991



N.A.: Os ensinamentos de Jesus estão disponíveis no Livro chamado Novo Testamento. Aquele que queira saber mais, eu sugiro que o leia sob a luz do seu Espírito Santificado e utilize sua  interpretação e medite sobre ela. Comprovará que os ensinamentos do Nosso Senhor Jesus foram estritamente espirituais, apesar de suas parábolas possuirem cunho material a fim de tornar o entendimento mais fácil. Jesus também nos ensina que devemos conviver tranquílos com a matéria e utilizá-la conforme a nossa necessidade e de maneira justa. Lembrem-se, Jesus disse: “Dai a César o que é de César, dai a Deus o que é de Deus.” (Lc. 20:25)

Todos os Evangelhos são repletos de ensinamentos, variam quanto a visão do autor, completam-se um ao outro, portanto é aconselhável dar a eles a mesma atenção.



terça-feira, 8 de maio de 2012

"NÃO PERCA A FÉ!!!"


Dente-de-Leão
Como toda criança eu nasci cheia dessa energia misteriosa que impulsiona a vida, a FÉ. Quando em um tempo de conflitos psicológicos eu procurei uma analísta para me ajudar a superá-los, pois bons conselhos naquela época era tudo o que eu mais precisava, ela se admirou como eu poderia ter na minha memória recordações tão vívidas da minha tenra infância. Minhas recordações datam desde os meus dois meses de idade, e isso realmente não é normal. Desde pequenina eu percebi a existência dessa sensação de fé, a qual ganhava força quando eu brincava com os raios de sol ou quando ficava observando a minha flor preferida: o dente-de-leão.

Sementes ao vento
Essa florzinha me parecia um sol em miniatura, e quando um dia eu ví a flor se transformar numa bolinha branca que parecia fiapos de algodão, eu me admirei, e quando soprei a bolinha e seus fiapos sairam voando pelo ar, eu me encantei inteiramente. E toda vez que eu me recordo da minha infância eu penso no dente-de-leão. Quando eu era criança os gramados vizinhos ao Parque Trianon, ali na Av. Paulista, ficavam salpicados de amarelo com os dentes-de-leão, mas hoje em dia essa florzinha tão singela se tornou muito rara de se ver, mas sempre que a vejo a menininha em mim sorri.

Quando menininha...
Contudo, igual a todas as crianças logo os choques com a o mundo começaram a solapar essa sensação tão boa que só a verdadeira FÉ dá. A descoberta das dores que o mundo oferece gratuitamente começou muito cedo para mim, com a leucemia da minha melhor amiguinha e a sua morte, quando eu tinha apenas cinco anos. Em seguida a esta perda brutal, minha mãe ficou muito doente e o medo de perdê-la era tão grande que eu fazia tudo que estava ao meu alcance para ela se recuperar e não morrer. Por dois anos seguidos eu cuidei dela com desvelo. Quando mamãe finalmente se recuperou, eu já não era mais a mesma criança, pois não pensava mais como criança, apesar de ser ainda uma menininha na minha aparência. Sem dúvida o enorme problema emocional trazido pela consciência da morte durante o período de alfabetização foi a causa de eu me tornar uma troca letras de primeira grandeza, consequentemente minhas professoras achavam que eu tinha um leve retardamento mental. Não ocorria a elas que eu tinha algo muito mais importante para pensar: como seria possível vencer a morte.

Primeira Comunhão
Na sala do nosso apartamento tinha uma Bíblia encardenada em dois volumes com lindas gravuras, e durante a doença de mamãe eu pegava aqueles livros não só para ver as figuras – muitas delas aterrorizantes para uma criança –, mas para tentar ler as histórias ali contadas. Eu podia não falar direito, mas desde cedo sabia ler muito bem, e assim durante aqueles dois anos eu lí pela primeira vez a Bíblia. Na mesma época eu já frequentava o colégio de freiras francesas da ordem de Santo Agostinho, e em razão do meu péssimo desempenho na alfabetização e do meu difícil relacionamento com minhas coleguinhas, eu passei a me refugiar na capela durante os recreios, onde eu ficava pedindo a Deus que curasse a minha mãe. Sem dúvida Deus ouviu minhas orações e por isso a partir da cura da mamãe minha devoção à Deus aumentou grandemente. Talvez por isso, quando chegou o tempo de me preparar para a minha Primeira Comunhão, eu já tinha dentro de mim uma forte convicção religiosa, só que com a minha própria concepção de Deus e de Jesus, a qual não tinha nada a ver com o que as freiras queriam que eu acreditasse. Minha maior resistência foi a de “confessar meus pecados”, eu destemida afirmei ao padre da Igreja São José que “crianças não têm pecado”, e que se pecavam era por causa dos adultos, que as levavam ao pecado. E, ainda perguntei ao padre, se ele não tinha lido o que Jesus dissera sobre as crianças, e como ele queria que eu mentisse, dizendo que eu havia pecado quando eu não pecara. Isso sim seria um pecado!!!  

Igreja São José
Assim eu fiz minha Primeira Comunhão aos trancos e barrancos, deixando as freiras escandalizadas com as minhas “idéias próprias”, enquanto que o padre, para meu total espanto, deu seu veredito: eu era uma criança precocemente religiosa e deveria ser tratada com cuidado pelas freiras. Que felicidade! Isso me abriu as portas do Paraíso naquela escola e deixei de ser tratada como a criança mais burra de todas e meus erros de português passaram a ser relevados enquanto que o meu desempenho em matemática e outras matérias passaram a ser observados como prova inefável da minha boa capacidade. Aos nove anos, o padre contemplou-me com a medalha da Ordem do Coração de Jesus, apesar que no íntimo eu quisesse ser da Ordem do Coração de Maria, mas segundo ele meu amor por Jesus era incomparavelmente maior, e deveria seguir meu coração. Ele estava certo. Alguns anos mais tarde, aos treze anos, minha dedicação à Jesus era absoluta e meu maior prazer era ler em voz alta nas missas diárias matinais as passagens dos Evangelhos, e quando eu fazia as leituras eu podia sentir meu coração arder de tanta fé.

Raio de Sol                                                               by  Bia/1981
A vida religiosa de uma freira era a minha vocação natural, era o meu desejo maior servir a Jesus e ajudar as pessoas em seus sofrimentos. Porém, quando manifestei essa vontade à minha madre superiora, pedindo a ela que me encaminhasse para ser noviça na ordem de Santo Agostinho, a resposta dela foi a mais absurda que eu poderia ouvir: “Bia, infelizmente, isso não será possível. Você é bonita demais e inteligente demais para entrar num convento. A vida religiosa não foi feita para você.”­  Ela só veio a ter idéia do mal que ela me fizera anos mais tarde, quando eu levei meu filhinho recém-nascido para ela conhecer, e ela lamentou por não ter me recomendado para ser noviça, por que naquele tempo para a Igreja Católica  eu ter tido um filho de um desquitado – e, não contente, ter separado grávida do pai dele, o que  eu fizera aconselhada pelo Frei Beijamim – era um “pecado” digno da excomunhão, para ela eu era uma horrível “pecadora”. Bom, se assim o fosse, Maria mãe de Jesus teria morrido apedrejada e Maria Madalena não teria sido a discípula amada dele. Então, eu disse a ela, que eu chegara a conclusão que “não pecar trancada num convento era fácil, mas enfrentar o pecado convivendo com o mundo é que era o verdadeiro desafio.” Ora, faça-me o favor, desde quando defender a VIDA de um filho seria pecado? Como uma criancinha recém-nascida poderia ter pecado?

Acontecera que a partir do momento que o direito de realizar a minha vocação religiosa fora por ela negado, eu me senti de tal maneira rejeitada pela Igreja Católica, que passei a questioná-la duramente, dia após dia eu fui me afastando da prática religiosa, pois na mesma medida que eu ampliava minha racionalidade e meu conhecimento, eu discordava mais e mais dos ensinamentos oferecidos pelo catolicismo romano. E, assim eu fui abraçando um mundo materialista e elegendo a Razão como minha bússula de vida. Nesse tempo eu me tornei uma moça bonita e popular e fiquei sujeita também às questões mundanas. O resultado não foi dos melhores, eu tinha abandonado minhas convicções, minhas crenças e tudo mais, eu me rebelei contra a moral vigente e, ao mesmo tempo, sem me dar conta disso, eu acabei sendo mais o que as outras pessoas queriam que eu fosse do que ser quem eu realmente era. Assim de “santinha” eu me tornei uma ovelha negra desgarrada do rebanho e aquela fé que um dia animara meu coração com tanto fervor, simplesmente foi desaparecendo.

Dos meus 17 anos aos meus 27 anos, eu vivi tudo o que o mundo tinha para me oferecer de bom e de ruim. Minha vida era repleta de altos e baixos, parecia uma verdadeira montanha-russa, como se o meu destino fosse completamente sem sentido e bastante absurdo. Eu podia ter de tudo, mas meu coração era sombrio e repleto de tristeza. E foi nessa condição de desencanto e infelicidade que no dia 14 de fevereiro de 1983, estando em Paris e sendo dia de Saint Valentine (dia dos namorados), eu fui conhecer finalmente o afamado Marché Aux Puces (mercado das pulgas).

Paris
Enquanto eu passeava por lá, eu fui abordada por uma cigana, que insistiu em ler a minha sorte. Naquela época eu ainda era rica, de modo que ela me viu como uma oportunidade de ganhar algum dinheiro fácil. Eu creio que nem eu nem ela estávamos preparadas para o que ia nos acontecer.

A cigana pegou a minha mão e começou a exibir seus dotes de quiromante, e eu fiquei até impressionada quando ela disse que eu ia sempre a Paris, pois estava certa. Ela disse também que o homem que estava me acompanhando não era o ‘grande amor da minha vida’, que o homem da minha vida era um ‘grand-seigneur’ e tinha olhos azuis, nisso ela acertara também. Então, ela perguntou-me o que eu queria saber sobre o futuro, e eu perguntei: “Vai ter amor na minha vida?” Ela estranhou, e perguntou: “Por que você quer saber se vai ter amor? O dinheiro não é mais importante que o amor?” Eu repondi: “O dinheiro não pode comprar o amor.” A cigana disse: “Mas o dinheiro pode comprar a saúde…” E eu retorqui: “De que adianta isso, se uma vida sem amor é o mesmo que estar morto para a vida?” Então, ela deu veredito dela: “Pois você terá que provar o que você está dizendo: que é mais importante ter amor do que ter dinheiro.”

E, tendo ela dito isso, a vidência dela se abriu de maneira miraculosa, e ela começou a falar sobre os horrores tenebrosos que me reservava o futuro do meu destino, a ponto dela chegar às lágrimas de comoção por ver o tanto de sofrimento que eu passaria, mas de repente um sorriso abriu-se radiante no rosto dela, e ela me disse: “Quando estiver passando por isso tudo NÃO PERCA A FÉ!!! Pois vejo que você se sairá vitoriosa e recuperará todas as perdas que vai sofrer e terá ainda mais do que você tem hoje, e será muito, muito feliz e ajudará muitas pessoas, inclusive a mim!!! Por favor, NÃO PERCA A FÉ!!!”

Pois bem, como é devido paguei à cigana com um pouco do que tinha na carteira, e ela não se importou de não receber o que pedira, pois vaticinou que o dia que eu voltasse a Paris, quando ela já estivesse cheia de anos, eu seria a alegria da velhice dela, porquanto que eu jamais a esqueceria e faria questão de ir procurá-la e, então, eu daria a ela o maior tesouro do mundo, aquele que o dinheiro não compra.

 Já se passaram 29 anos e eu nunca mais retornei a Paris. Eu fui para muitos lugares no mundo, mas Paris por algum motivo não foi mais meu destino. Mas, a cigana, cujo nome é Marie Thérèze, permaneceu na minha memória, sempre dizendo: “NÃO PERCA A FÉ!!!” Todos os horrores tenebrosos que ela me falou já aconteceram, todas as desgraças tiveram seu lugar na relidade e eu as superei, uma a uma. E eu devo a ela, a esta cigana, o grito de alerta para minha consciência para ter cuidado e não perder a minha fé. Em razão dos embates que estava tendo nos últimos anos, se havia alguma fé ainda em mim esta era quase menor que um grão de mostarda, sem dúvida que eu precisaria urgentemente recuperá-la a seu estado original, para que eu pudesse fazer frente às funestas previsões que ela me fizera. Mas, aonde e como – eu me perguntava –, eu poderia recuperar a minha Fé?

Assim, na medida que as previsões feitas pela cigana começaram a acontecer minha busca pela fé se fazia mais e mais preemente. Eu refletia sobre a tal necessidade que eu teria de provar que ter amor na vida é mais importante que ter dinheiro. O amor, do qual eu falara para ela, era aquele que tão bem descrito por Paulo de Tarso: “Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tiver amor, sou como o bronze que soa, ou como o címbolo que retine. Mesmo que eu tivesse o dom da profecia e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência; mesmo que tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, se não tiver amor , não sou nada. (…) O amor é paciente, o amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.” (I Cor. 13:1-7)  Então, após muito pensar, eu descobri que o fato de eu acreditar no poder desse amor era onde eu reencontraria a força da minha fé, ou seja, se ainda havia amor em mim, mesmo que a fé fosse aquela altura de todo tão pequenina, o amor poderia recuperá-la em seu antigo esplendor.

Nos anos de tormenta que vieram, eu percebi que o ponto que realmente estava sendo colocado à prova por todo o tempo era a minha capacidade de “amar” e  não tornar-me uma pessoa fria, distante e calculista, daquelas cujos meios são justificados pelos fins. As coisas chegaram num ponto tal, que toda vez que eu pensava que tinha alcançado o fundo do poço, mais fundo ainda eu teria que descer. E eu lutava e lutava desesperadamente para sair daquela situação e mais era avassalada pelo infortúnio. A certa altura, por volta de 1995, já passados 12 anos do meu encontro com a cigana, eu me senti o próprio Jó, que, como ele, eu também fora escolhida por Deus para ser colocada à prova na minha integridade e na minha fidelidade. Do mesmo modo que Jó eu também contei com os meus “consoladores”, mui amigos, que diziam que eu caira na desgraça por minha própria culpa, devido às minhas escolhas. Escolhas? Escolhas inclui alternativas, se não existem alternativas, ou se estas levam a um desastre ainda maior, logo não há escolha! Só que diferente de Jó, eu não aceitava a situação da desgraceira que a minha vida se tornara, e resolvi bater na porta de Deus até colocá-la a baixo, querendo explicações daquilo tudo. Eu estava mais como Jacó disposta a lutar com Deus ou com quem quer que fosse, até com o demônio, para saber como colocar um paradeiro num destino ensandecido que parecia querer me destuir de vez. E, não sosseguaria até que Deus resolvesse me reponder.  

A razão já não conseguia explicar mais nada para mim, toda e qualquer racionalidade parecia não funcionar ou alcançar uma solução lógica. De modo que a argumentação de Blaise Pascal (1632-1662) passou a ganhar corpo no meu pensamento do seguinte modo:

SE DEUS NÃO EXISTE E EU ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER NÃO TEREI PERDIDO NADA.

SE DEUS NÃO EXISTE E EU ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER TAMBÉM NÃO TEREI PERDIDO NADA.

SE DEUS EXISTE E EU ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER EU SÓ TEREI A GANHAR.

SE DEUS EXISTE E EU NÃO ACREDITO NELE, QUANDO EU MORRER EU TEREI PERDIDO TUDO.

LOGO, A RAZÃO ME DIZ QUE EU TENHO MAIS A GANHAR ACREDITANDO NA EXISTÊNCIA DE DEUS DO QUE NÃO ACREDITANDO.

Assim, considerando também o pensamento de Norman Mailer de que “uma impossibilidade provável é melhor que uma provável impossibilidade”, eu estava cada vez mais convencida de que Deus não joga dados e sim xadrez, e que o destino sem dúvida existia, assim resolvera seguir piamente o conselho de Jesus: “Pedi e se vos dará. Buscai e achareis. Batei e vos será aberto. Porque todo aquele que pede, recebe. Quem busca acha. A quem bate, abrir-se-á.” (Mt. 7:7). 

Capela Nossa Senhora das Graças
Nessa época eu ia sempre visitar meu querido amigo e conselheiro Padre Horta, de saudosa memória, na Capela de Nossa Senhora das Graças, em Brasíli. Assim, numa tarde após uma de nossas longas conversas, eu estava saindo quando meus olhar pousou sobre um monte de panfletinhos e pegando um eu lí: “Perguntaram a Santo Agostinho porque pedimos a Deus e não somos atendidos. Ele respondeu: Malum, Mala, Mali.
Malum – Porque pedimos de maneira errada.
Mala – Porque pedimos o que Deus sabe não ser bom para nós.
Mali – Porque nós somos maus (vivemos no pecado).”

Logo, entendi o recado que Deus enviara; não adiantava nada eu ficar feito maluca batendo na porta, eu precisava “aprender a pedir” e “fazer por merecer" que o meu pedido fosse atendido.

Montanhas da Noruega                                     by Bia/1989
Se em outubro de 1989, eu começara a encontrar uma luz no final do tunel ao viajar para a Noruega e ter tido a oportunidade de conviver com pessoas tão especiais, mesmo que fosse por um breve tempo, mas tempo suficiente para aprender o valor da simplicidade da vida e como é possível transformar o que nos é adverso num estímulo para nos tornarmos mais fortes e capazes de sobrepujar nossas fraquezas, e, em Londres, o destino me colocara o conhecimento Sufis para tornar-me uma pessoa mais consciente,  de modo que eu conseguisse chegar ao meio do caminho do meu oceano de lágrimas, seria  numa nova viagem que eu finalmente recuperaria a minha fé inteiramente.

Direções
Quase em seguida ao recado de Deus do panfletinho de Santo Agostinho, eu recebi o convite da Marinha do Brasil para participar de uma viagem a Antártica. Desde quando eu tinha 10 anos, eu sabia que algum dia eu iria visitar o continente gelado. Logo, ficou claro para mim que eu tinha um encontro com o destino na Antártica, ao qual eu não devia faltar de nenhuma maneira. O momento poderia não ser menos propício, já que as dificuldades financeiras eram imensas, mesmo assim eu vendi os anéis de ouro que me restavam para pagar as despesas, pois eu tinha uma única certeza: o meu destino dependia daquela viagem. Assim, com os meus 40 anos recém completados lá fui eu para a Antártica.

Na Antártica
No dia 12 de outubro de 1995, dia de Nossa Senhora Aparecida, um mês exato após meu aniversário, lá estava eu atravessando as águas geladas da passagem de Drake em direção da ilha do rei George, animadissima com a perspectiva de chegar a Antártica, mas não foi possível aterrissar e o avião teve que voltar para Punta Arenas, no Chile. O que não se esperava era que o trem de aterrissagem congelasse e a situação ficou preta. A perspectiva de um acidente era alta, mas por um milagre o trem de pouso descongelou e chegamos em segurança. Durante o perigo, eu pensava que nem aquele índiozinho do desenho animado da Disney, que dizia “hoje é um bom dia para morrer”. Afinal já tinha tantas vezes encarado a morte de frente nos últimos anos, que naquela altura do caos da minha vida, mais uma não faria diferença, e em razão de um suícidio recente na família passara a considerar que a morte era uma saída fácil dos problemas da vida, duro mesmo era encarar a realidade nua e crua dos fatos e sobrepujar as dificuldades.

Capelinha na Antártica                                                  by Bia/1995
No dia seguinte, lá fomos nós de novo e dessa vez o avião pousou no solo antártico num dia maravilhoso de um céu azul indescritível. Apesar de todo o esquema montado para a visita à estação chilena da Antártica, eu consegui fazer uma caminhada solitária de exploração e esta me levou a uma pequena capela no alto de um morro, cujos vitrais em tons de amarelo davam uma luminosidade convidativa à meditação. Alí eu fiquei um bom tempo rezando, agradecendo por estar viva e por tudo mais, e, naturalmente, agora com muita humildade, pedindo para que a minha minguada fé fosse fortalecida. 

Encontro com Deus
Então, saindo da singela capelinha, continuei a caminha pela neve e sentei numa pedra no alto da montanha, de onde eu pudia contemplar um magnífico vale de gelo que espelhava o céu, de modo que num infinito horizonte o céu e a terra não estavam separados. Ao ver essa imagem magnífica, mesmo sob um frio muito intenso eu senti um calor tomar conta do meu corpo e pela primeira vez depois do que me parecia ter sido uma eternidade, aquela sensação indescritível de quando eu era criancinha brincando com os raios de sol voltou a mim. No mesmo momento eu percebi que novamente eu estava me enchendo de FÉ, eu era como um copo vazio que se colocava água. E conforme a FÉ me tomava, eu também pudia sentir a presença de Deus em mim e em tudo a minha volta, e parecia-me que o chão que eu pisava e o céu que estava sobre a minha cabeça constituiam o único e verdadeiro templo de Deus. Finalmente, a porta de Deus inesperadqamente se abrira inteiramente para que eu passasse por ela. Naquele momento miraculoso eu tive a certeza absoluta que Deus não me abandonara à minha própria sorte e senti uma gratidão tão imensa que lágrimas de felicidade banharam o meu rosto. A partir daquele milagre, eu sabia que eu começava a trilhar um novo caminho, não mais segundo a minha vontade, mas segundo a vontade de Deus.

Céu e terra                                                             by Bia/1995
Após esta viagem, onde reencontrei a Deus, e reencontrando a Ele, eu reencontrei a mim mesma, com a FÉ renovada eu sabia que conseguiria vencer todo o desafio que seria reconstruir a minha vida. Havia apenas um porém, eu em breve descobriria que fazer a vontade de Deus não seria nada fácil. Logo após regressar a Brasília, nada melhorou, ao contrário piorou ainda mais, todas as portas para qualquer trabalho foram fechadas. Sem nenhuma esperança de encontrar trabalho e apenas com a coragem que só a fé pode dar, eu decidi retornar para São Paulo, deixando minha mãe e meu filho em Brasília. O meu sucesso em encontrar trabalho não durou nem um ano, mas foi mais do que o suficiente para uma pequena melhoria, tanto o meu filho conseguira entrar na Faculdade de Direito do Largo São Francisco, como eu consegui que mamãe viesse morar comigo em São Paulo.  

Na difícil luta daqueles dias, os meus passos me conduziram de volta à  Igreja de São José, onde eu esperava ser possível reencontrar o amor por Jesus, o "coração de Jesus", que me fora já tão precioso. Era como se eu quisesse dizer a ele o quanto eu ainda o amava, mesmo não tendo tido a oportunidade de serví-lo como tanto desejara no passado. De alguma maneira que só Deus pode explicar, eu reencontrei a Jesus, e desde 9 de março de 1997 dedico a minha vida à ele. Eu não precisei me tornar uma freira para serví-lo, nem para seguí-lo, nem mesmo ser de toda uma santidade ou ser católica (pois eu sou uma dissidente do catolicismo), apenas foi necessário que eu me esforçasse para ser o melhor em mim mesma, dar o melhor de mim em tudo que faço e fizesse do meu amor a minha profissão de fé. Desde então, eu tenho aprendido tudo o que eu sei com Jesus, foi ele que me ensinou como a fé é poderosa quando se age com fé a todo instante e com todo o amor pelo que se faz . Ele me ensinou também, que sempre existirão obstáculos para serem transpostos, batalhas a serem vencidas, desafios a serem conquistados, mas, que é mais fácil carregar a cruz do destino sorrindo do que chorando. Certo, certissimo! E foi assim, sempre com um sorriso no rosto que eu passei as tantas dores que ainda me estavam reservadas, dores que partiram o meu coração, como ver todos da minha família morrer, um após o outro em curto espaço de tempo e até meu cachorro morreu. Contudo, alegrava-me vendo meu filho seguindo seu brilhante destino que lhe fora reservado por Deus, mesmo que para isso tenha sido necessário que nos separássemos por cinco anos, ele vivendo nos Estados Unidos estudando em Harvard e eu sozinha aqui em São Paulo.

Hoje, quando volto meu olhar para o meu passado tenebroso e sombrio, que fica a cada dia mais e mais distante, admiro-me do seu contraste com esse tempo tão luminoso em que vivo. Admiro-me também que tenha sido necessário ter perdido tudo em todos os sentidos para finalmente alcançar uma felicidade tão desejada e sonhada. Há a certeza dentro de mim que eu consegui provar que o amor vale muitas vezes mais que o vil metal, que, como Jesus ensinou, nós devemos saber lidar com as coisas materiais sem depender delas, sem nos apegarmos demais, pois a nossa felicidade não depende disso, do que temos ou não temos. O amor é uma dádiva que Deus nos deu, uma força poderosa e o agir por amor trás recompensas que nem mesmo com toda a fortuna do mundo poder-se-ia comprar.

O segredo da minha vitória residiu em ter percebido a tempo, que a minha fé estava se perdendo e que possivelmente se eu a perdesse inteiramente eu também perderia o amor que havia em mim, e não querendo perder o amor eu reencontrei a fé, a firmeza para lutar pela vida e fazer de quem sou uma pessoa melhor e digna aos olhos de Deus. Sim, provei com muito esforço e mérito o que eu disse: o amor vale mais que o dinheiro. Eu posso ter passado por tola um trilhão de vezes; eu posso não ser rica como já fui; eu posso não ter mais a beleza que eu tinha na juventude; eu posso nem ter lá muitos amigos como eu tinha no passado;  eu posso não ter mais sucesso profissional como já tive e eu posso até ter perdido a oportunidade de ter conquistado o mundo, contudo, de que valeria ter tudo isso e ter perdido a minha fé, o meu amor e a minha alma? Se eu não tivesse amor em mim eu não seria nada, se eu não tivesse fé não haveria razão para eu existir e se eu não tivesse alma eu não viveria.

Digo sempre ao meu filho que ele é a prova viva que o amor vale a pena. Ele foi a minha testemunha, ele conhece a minha fé em Deus, e a minha devoção amorosa com Jesus, pois se não fosse assim, meu filho não seria este homem maravilhoso que é e do qual eu me orgulho tanto em ser  tão apenas sua mãe. A verdade, a minha única verdade, é que se não fosse com a ajuda de Deus e com a de Jesus eu não teria conseguido ser uma boa mãe e não estaria aqui escrevendo essas palavras para vocês. Certamente eu não teria sobrevivido! Ao meu ver a razão humana não tem como explicar o meu destino, só Deus e unicamente Deus sabe o motivo pelo qual fui tão açoitada pela vida, mas certamente não foi pelos meus pecados. Eu errei um montão, mas foi errando que aprendi a fazer o certo, pois eu errava e corrigia os erros e não mais os repetia. Por vezes, eu penso que eu fui como uma pedra bruta preciosa nas mãos de Deus, e que ele foi me lapidando até que eu tivesse o brilho que Ele desejava que eu tivesse, porquanto todos os golpes doloridos que sofri tornaram-me o que sou hoje, alguém bem mais consciente, firme e capaz de ser feliz, mesmo se a adversidade resolver aparecer de novo. Além disso, talvez só agora eu possa realmente ajudar as pessoas como sempre desejei, já que todo conhecimento decorre da experiência e da vivência, e eu vívi e como vívi! Eu posso afirmar que me formei com honra e mérito na Faculdade da Vida e me tornei uma doutora em resiliência! (A resiliência é a capacidade de lidar com problemas, superar obstáculos ou resistir à pressão de situações adversas - choque, estresse etc. - sem enlouquecer, permitindo o  enfrentamento e a superação de problemas e de adversidades.) Eu diria, também, que sem sombra de dúvida adquirir tal conhecimento valeu a pena, principalmente se eu puder transmití-lo às outras pessoas e cada uma possa encontrar sua própria felicidade. Assim, saibam, que quando coisas ruins acontecem com pessoas boas, Deus não está sendo injusto, simplesmente Ele está querendo torná-las ainda melhores do que são!

Jogue xadrez com Deus!!! 
Nestes dias em que me dou conta que os dias felizes já não são mais tão raros que eu possa contá-los nos meus dedos, e que a felicidade virou companheira constante, eu me pego sonhando a esperar com alegria que a parte final da profecia da minha cigana de Paris venha a se cumprir, e, então, eu possa vir a abraçá-la novamente dizendo: “Querida, Marie Thérèze, aqui estou eu! NÃO PERDI A MINHA FÉ!!!” Quando isso acontecer, vocês saberão, pois será  uma prova inefável que Deus existe mesmo e que defiitivamente Ele é o maior jogador de xadrez!!! Mas, se arrisque, Ele não se importará em perder para você, é isso que Ele quer, ver você vencedor!!!

Para encerrar esta postagem com chave de ouro, apresento a vocês esse rapaz britânico formidável de 24 anos, cujos pais são de Uganda, mas ele se criou em Londres, e que como compositor ganhou o prêmio BBC Sound of 2012, em 6 de janeiro último, e continua fazendo o maior sucesso com sua música I'm Getting Ready do album Home Again (24/07/2011). Seu nome é MICHAEL KIWANUKA, e aposto que vocês vão gostar e muito!!!



Oh my, I didn't know what it means to believe
But if I hold on tight, is it true?
Would you take care of all that I do?
Oh Lord, I'm getting ready to believe.
Oh my, I didn't know how hard it would be,
But if I hold on tight, is it true?
Would you take care off all that I do?
Oh Lord, I'm getting ready to believe.
Then we'll be waving hands singing freely,
Singing standing tall it's now coming easy,
Oh no more looking down, honey, can't you see?
Oh Lord, I'm getting to believe...